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Eu amamentei um bebê desconhecido

Depoimento “Eu,mãe”: Ana Paula Moutinho, policial militar, mãe de um menino de um ano

Eu sofri quarto abortos espontâneos antes de conseguir engravidar. Mas é possível que eu tenha tido outras perdas que sequer foram detectadas. Comecei a tentar ter um filho há nove anos, quando parei de tomar a pílula.

Quando consegui engravidar, o pai do meu filho sumiu diante da notícia. E não foi só isso. Assim que eu descobri que seria mãe, minha avó morreu. No quinto mês de gestação foi a vez da minha mãe e no sétimo, do meu tio. Tive que mudar de cidade e voltar para a capital neste período. Foi uma gravidez muito conturbada. Mas o meu moleque nasceu saudável mesmo assim.

Eu sou policial militar, trabalho das 9h às 18h mais escala de supervisão de 24 horas, e posso contar apenas com a ajuda de uma ex caseira do meu pai no dia a dia e da minha madrinha nos finais de semana, mas era mora longe de mim. Mas eu tenho a sorte de ter um filho levado, mas bonzinho. Ele fica muito bem com quem estiver cuidando dele.

Eu vejo muitas coisas ruins acontecerem todos os dias, e depois que o meu filho nasceu eu fico mais apreensiva quando me vejo exposta a algum risco.

Há cerca de vinte dias eu estava na Supervisão de Operações e ouvi no rádio da viatura a ocorrência de uma mulher que teria abandonado um bebê em uma igreja. Como a viatura que atenderia a ocorrência estava longe, e também pela complexidade do caso, resolvi passar no local pra ver.

Quando cheguei lá a mãe, dependente química, estava bastante irritada e dizendo que ou alguém ficaria com a criança ou ela a jogaria em qualquer lugar. Perguntei se ninguém da família queria e ela disse que talvez a sogra aceitasse. Perguntei se ela tinha o contato dessa sogra e ela ficou de buscar em casa.

Mas o bebê já estava no meu colo desde o começo. A mãe falou que iria buscar o telefone e eu falei que com o bebê ela não iria e ela concordou.

Sinceramente, nós achamos que não voltaria.

O bebê já estava chorando muito, e piorou. Eu cheguei até a pedir para comprarem leite e mamadeira, mas achei que ele estava sofrendo muito.

Eu já estava trabalhando há doze horas e meu peito estava cheio de leite. Então resolvi amamenta-lo. Ele pegou meu peito imediatamente e com muita força. Mamou por mais de uma hora, cochilava no meio e quando eu tentava tirar ele voltava a chorar.

A mãe voltou com a bolsa do bebê e eu disse que teríamos que ir pra delegacia. Ela não quis pegar o filho e eles foram em viaturas separadas. O bebê foi comigo, ainda mamando. Quando chegamos na delegacia chamei o Conselho Tutelar e consegui falar com a sogra dela, avó do bebê. Ela ficou com ele.

Pode parecer frieza, mas confesso que isso não me abalou muito. Estou acostumada e ver coisas difíceis, mas isso me deu uma saudade enorme do meu filho naquele momento. Era uma vontade enorme de cuidar, acarinhar, proteger.

Ele me fez muita falta muito grande quando estou trabalhando. Eu sinto ciúme das pessoas que cuidam dele e não me imagino sem ele. Tudo isso fez com que eu dimensionasse o tamanho do meu amor pelo meu filho.

E é enorme.