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De repente tudo fez sentido

Depoimento “Eu,mãe”: Carolina Marcondes, 35 anos, jornalista, mãe de um menino de dois anos

Acabei de voltar da escolinha do meu filho. Hoje fizemos a festinha de aniversário dele. O tema da festa foi o mesmo da comemoração que fizemos no último fim de semana: a turma do Snoopy. Tão pequeno atrás da mesa, ele não conseguiu apagar a velinha.

O meu filho já tem dois anos.

Eu não me lembro exatamente quando foi que eu decidi que eu queria ser mãe. Acho que pra mim isso era uma coisa meio óbvia, e talvez eu tenha caído na armadilha que o mundo prega na gente desde sempre, dizendo que toda mulher precisa ser mãe, que esse é o sentido da nossa vida.

Ele é o sentido da minha vida, sim. Mas precisa ser assim com toda mulher?

Eu nasci em uma cidade pequena e desde sempre sabia que não iria viver lá pra sempre. Os meus sonhos de criança sempre começaram com “quando eu me mudar para (insira aqui opções como São Paulo, Londres ou Nova York)”. Aos 18 fui embora para viver com o meu pai, com quem tive uma relação difícil durante a adolescência. Mas viver somente com ele em um apartamento foi fundamental para que ele se tornasse o melhor pai que eu poderia ter, e para entender o quanto a presença da minha mãe, que ficou no interior, era importante pra mim.

Depois que meu pai aceitou uma proposta de emprego fora da cidade as coisas passaram a acontecer de uma maneira muito rápida: minha carreira de jornalista deslanchou, fui dividir o apartamento com uma desconhecida meio biruta e conheci o meu marido. Viajei muito – e ainda viajo, conheci tantos lugares que eu sempre sonhei, não parei de estudar.

A vida estava de acordo com as expectativas – as minhas e as dos outros. Casada, com casa própria e uma carreira estável. Europa nas férias.

O sonho de ser mãe continuava ali, mas teve aquele dia.

Aquele dia, aos 32 anos, em que eu acordei e decidi: estava na hora de engravidar.

Eu nem pensei direito. Marquei consulta no médico, fiz os exames, conversei com meu marido, o médico disse que levaria de seis meses a um ano pra engravidar, tirei férias.

Três meses depois da decisão de engravidar, eu engravidei.

Quando fui fazer o exame Beta HCG, já que o teste de farmácia deu resultado inconclusivo, a enfermeira perguntou se eu queria que desse positivo.

Sim, eu queria. Mas não, eu não fazia ideia do que estava por vir.

Porque a partir daquele dia em que eu abri o resultado pela internet e fui chorar no banheiro do escritório, mudou tudo. Não só o corpo, as responsabilidades, as prioridades. Mudou o meu jeito de ver o mundo. Nasceu a vontade de entregar um mundo melhor pro meu filho. De entregar um bom homem pro mundo. Responsável, respeitoso, bom caráter, bem humorado. De ser uma pessoa melhor. Ser uma pessoa que ele queira por perto não apenas por ser a mãe dele, mas por ser uma boa pessoa.

Meu filho nasceu numa manhã de sexta-feira e eu não me lembro direito do momento em que eu o peguei no colo, já no quarto do hospital. É uma memória que eu gostaria de ter e não tenho. Não me lembro direito da primeira vez que ele mamou.

Nos primeiros dias do meu bebê em casa, eu chorei muito. Chorava por não conseguir fazer ele dormir, porque ele queria mamar o tempo inteiro, e porque muitas vezes eu me perguntei onde é que eu estava com a cabeça quando decidi ser mãe.

Toda mãe no puerpério, nem que seja por um segundo, se faz essa pergunta. E com sinceridade.

Quando meu filho nasceu antes de mais nada veio um sentimento de proteção. Algo meio instintivo do tipo “eu preciso mantê-lo vivo”. Porque o amor, esse amor louco que a gente sente pela nossa cria, vem como uma porrada na nossa cara, apesar de eu não saber exatamente quando ele chegou.

De repente tudo fez sentido. A minha vida. Todos os caminhos percorridos até chegar ali, naquele momento. O amor que eu sinto pelo pai dele. Todo o medo que eu senti. Toda a dúvida se eu seria uma boa mãe.

E agora eu estou aqui, me vendo emocionada quando ele aprende uma coisa nova. Com saudades dele quando chega a hora de busca-lo na escola. Virando a minha carreira de cabeça pra baixo e feliz por poder trabalhar em casa e passar as manhãs com ele, fazendo “preguicinha” na cama, vendo TV e dançando todas as músicas do Discovery Kids, fazendo o almoço dele e vendo-o se deliciar ou ignorar solenemente o meu esforço.

Ele já tem dois anos.

E eu ainda o amamento e essas estão entre as melhores horas do meu dia. Nestas horas, e em tantas outras, ele me olha e sorri.

E aí eu entendo tudo, em um ataque de lucidez.

Nestes dois anos, eu estive cansada praticamente todo o tempo. Eu estou constantemente com sono. Eu adoro correr, mas sempre antes de ir ao parque ao lado de casa minha mente tenta me lembrar que eu poderia gastar essa uma hora cochilando.

Na maioria das vezes o parque vence.

Um grande momento da minha semana é quando, sábado ou domingo, meu filho sai com o pai pra brincar. E eu durmo a manhã inteira e sou acordada por ele, pulando na minha cama e chamando por mim com esse sorriso que ele tem. É o melhor jeito de acordar do mundo.

Minha vida como mãe não é perfeita. É muito cansaço, muita dúvida, muita culpa. Muita irritação com uma criança fazendo birra. Mas é a minha vida, o caminho que eu escolhi e não me arrependo.

Dizem que o amor cura tudo. E eu vou além. O amor, esse amor tão grande, tão maior que eu, me justifica.

Esse amor me reinventou, criou uma versão melhorada de mim mesma. Com quilos a mais, olheiras e até cabelos brancos olha só, mas alguém mais perto da pessoa que eu sempre quis ser.

Hoje, eu sou feliz.