FIlhos
Z eu mãe
A licença-maternidade chegou ao fim

Depoimento “Eu,mãe”: Zenaide Quevedo Peres Bonato, 35 anos, jornalista, mãe de uma menina de cinco meses e meio

Ouvi um choro no fundo, como se fosse num sonho. Abri os olhos, olhei a hora e vi que não, não era um sonho, era a minha filha, já acordada às 5:10 da manhã, pedindo seu café da manhã. Me revirei na cama, levei alguns segundos para levantar, meu marido foi na frente. Passei no banheiro e fui lá amamentar uma pessoinha tão especial de cinco meses de idade.

Ela mamou com vontade e força, e nesse meio tempo eu quase adormeci encostada na poltrona. Acabou uma teta, ela reclamou, então troquei ela de lado. Sentindo-se satisfeita, me olhou fundo nos olhos e esboçou um sorriso. Me senti especial. Entreguei ela para o pai trocar a fralda e fui deitar mais vinte minutos, pois a gripe estava acabando comigo.

Acordo minutos depois, me visto para ir trabalhar e vou até o quarto dela. Ela está lá na cama sorrindo pra mim. Sinto um aperto enorme no peito, uma vontade de ficar com ela grudadinha o dia inteiro. Lágrimas escorrem do rosto e blasfemo o quanto esse mundo é injusto, me obrigando a ficar longe da minha pequenina tão, mas tão cedo. Sim, hoje é um dia que estou mais sentimental, talvez a gripe, talvez o cansaço, talvez a falta de costume com a nova rotina, talvez o simples fato de ser mãe.

Meu dia começa mega cedo, mas para mim isso não é algo ruim, pelo contrário, é muito bom. Minha filha dorme entre sete e oito da noite e só acorda pelas cinco e meia/seis horas da manhã. Tem sido assim há alguns meses já – sim, ela dorme a noite toda desde os dois meses, e sei o quanto sou abençoada.

O fato é que desde quinta-feira passada um elemento novo está fazendo meus dias muito mais agitados, sensíveis, difíceis e emocionantes. A minha licença maternidade chegou ao fim e voltei ao trabalho. Desde sempre eu sabia que a minha menina iria para o berçário com menos de cinco meses. Deixar o trabalho não era uma opção e ter a ajuda da família também não, pois tanto a minha quanto a do meu marido moram em outro estado. Antes dela nascer, eu era dura e direta ao afirmar que sim, ela iria para o berçário com cinco meses.

Ah, mas como nós mães, antes de nos tornarmos mães, subestimamos nossos próprios sentimentos, achando que vamos pensar assim ou assado. Nem durante a gravidez o sentimento muda tanto quanto depois que temos um bebezinho em nossos braços. Uma chave vira, não adianta. Algumas amigas grávidas comentam coisas, e eu penso assim: deixa nascer que tua opinião mudará totalmente.

Em julho começamos a busca por um berçário. Como eu chorei, nossa, nenhum servia. Afinal, ninguém vai cuidar minha filha melhor do que eu, não é mesmo? Sim, isso é verdade, mas é preciso aceitar e pensar que a perfeição não existe. Decidimos que a prioridade era um berçário perto de casa, pois poderíamos levar a pequena sem precisar de carro. Encontramos, gostamos, conversamos, visitamos e aprovamos. Um lugar familiar, com ambiente aconchegante, cheiro delicioso de comida saindo da cozinha, berçaristas bem dispostas, carinhosas e bebês felizes.

O que posso dizer até agora é que não é fácil, mas que estou adorando retomar minhas atividades, adorando ter um pouco do meu eu, só meu de volta.  A cada dia lido melhor com a vontade de ficar o dia todo com nossa pequena e lido melhor com a correria da manhã, com a ordenha durante o trabalho e com algum sentimento de culpa que insiste em dar as caras vez e outra. Estou firme na missão de mãe, esposa, profissional, cozinheira e principalmente firme em sempre tentar encontrar outras saídas e não transformar esse momento tão mágico em algo pesado e que sugue os meus dias sem eu perceber.

No final de tudo sabe o que fica? Aquele sorriso maravilhoso que ela me dá, e aquele olhar de quem com cinco meses já parece querer conhecer o mundo.  Sim, eu sou muito feliz em ser mãe e muito feliz em ter ao meu lado um parceiro para todas as horas. Costumo dizer que meu marido só não tem “tetas”, porque de resto ele faz tanto quanto eu. Na nossa vida é assim, e eu tinha certeza que com a chegada da nossa não seria diferente. Acertei.